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HASARD ESTREIA
HASARD surgiu da pesquisa do ERRO sobre a relação do jogo na sociedade contemporânea – assunto explorado em outros trabalhos, mas aprofundado nessa obra sob a ótica dos jogos financeiros e de retenção de poder.
HASARD, obra inédita do ERRO Grupo, estreia dia 9 de agosto em Florianópolis.
Quatro ruas. Quatro situações. Escolha a sua posição.
Quatro ruas do Centro de Florianópolis servem como território para o novo trabalho do ERRO Grupo no próximo dia 9 de agosto. HASARD ocupa todo o quarteirão que compreende os calçadões da Felipe Schmidt, Conselheiro Mafra, Trajano e Deodoro e faz parte da segunda etapa do Projeto Manutenção do ERRO, patrocinado pelo Petrobras Cultural.
O público terá que fazer a sua escolha de rua para acompanhar a obra – ou parte dela. O quarteirão impõe uma fragmentação do trabalho e o público experimenta a peça aleatoriamente ou decididamente através das inúmeras possibilidades de escolhas dos caminhos que as ações propõem. Não são apenas os rumos das situações que são embaralhados, em HASARD os textos dos atores variam conforme cada apresentação. Um baralho é usado em cena e, dependendo das cartas, o texto da peça se transforma.
Ao longo de HASARD, as quatro situações contaminam umas às outras, utilizando a aleatoriedade como operação, possibilitando diferentes desdobramentos das ações, através das diferentes formas de jogo que o grupo propõe aos transeuntes durante a intervenção. As ações percorrem o quarteirão e o público terá sempre que se posicionar para acompanhar os desenlaces das tramas propostas.
HASARD traz questionamentos sobre como nos posicionamos como jogadores na contemporaneidade e assim como outros trabalhos do ERRO Grupo, a peça busca questionar a relação de controle exercida pelo mercado em nosso cotidiano. A ação geral da obra conduz o público a jogar. Não agimos, sem antes desejar um fim, agimos de acordo com as nossas escolhas, que são aleatórias se nós não refletirmos sobre as mesmas. No quadro geral das intervenções, as ações estarão englobadas em quatro locais distintos, quatro ruas de um quarteirão, e acontecerão simultaneamente, nos quais se dará a atenção e decisão do público para se posicionar perante as situações.
Para a criação e construção de HASARD, o ERRO realizou laboratórios de observação em casas de jogos, além de um curso de abordagem e contenção de massas com o Batalhão de Choque da Polícia Militar de Santa Catarina e de pesquisas neurológicas no Laboratório de Neurociência da UFSC. As leis, o uso das forças militares, procedimentos de segurança, de julgamento, de contratação de profissionais e de operações no mercado financeiro foram visitados através de manuais e textos didáticos que ensinam os procedimentos utilizados por esses poderes instituídos, além de diversos manuais de operações, comportamento e regras de economistas, policiais, exército, bombeiros, jogadores profissionais, etc. Ou seja, toda a dramaturgia da peça é construída ao redor dessas instruções dos manuais dessas profissões.
O ERRO, durante o ano de 2011, debruçou-se ao redor de pesquisas sobre suas obras anteriores, apresentando-as e analisando-as com o fim de revisitar seus procedimentos de ação ao longo de seus dez anos para destacar quais seriam as ferramentas exploradas em um novo trabalho. Em 2012, o grupo realiza os estudos, os ensaios e as temporadas de HASARD.
A PESQUISA
HASARD surgiu da pesquisa do ERRO Grupo, pelo Programa Petrobras Cultural, sobre a relação de jogos na sociedade contemporânea – assunto explorado em outros trabalhos do grupo e aprofundado nessa obra sob a ótica dos jogos financeiros e de retenção de poder. O trabalho se desenvolve sob a tríade mercado, manutenção do poder e jogos de azar, em uma miríade de caminhos e proposições que exploram a situação de perda à luz do controle e das leis do mercado em nosso cotidiano.
Ao pesquisar sobre a origem dos jogos, o grupo se deparou com o raciocínio de que todo jogo nasce da profanação de um rito ou mito religioso. O jogo ignora a separação entre humano e divino ou faz dela um uso particular, não se origina apenas de uma esfera do sagrado, mas como representa a sua inversão e subversão.
Qual seria o jogo sagrado da sociedade contemporânea? Com esta indagação, o ERRO Grupo se apoiou nas conclusões do filósofo Walter Benjamin, quando afirma que o capitalismo é uma religião e não apenas um sistema político. Uma religião pagã onde o utilitarismo ganha sua coloração religiosa. Investir, comprar, apostar, manobrar a bolsa de valores, vender, etc., são práticas utilitárias do culto ao capitalismo. O ineditismo histórico desta religião é não buscar a reforma, mas a ruína do ser. Como coloca o estudioso Michael Löwy, a nossa culpa é o nosso endividamento para com o capital, perpétua e crescente, nenhuma esperança é permitida. Segundo a religião do capital, a única salvação reside na intensificação do sistema, na expansão capitalista, no acúmulo de mercadorias, mas isso só agrava o nosso desespero.
Tendo em vista que a regra é a base para todo jogo, o grupo recorreu a informações sobre quem controla e faz valer as regras deste jogo capitalista, aqueles que detêm o poder de julgar e de manter a ordem. O jogo não pertence à vida comum, se situa fora do mecanismo de satisfação imediata das necessidades e dos desejos e, pelo contrário, interrompe este mecanismo. Ele se insinua como atividade temporária, que tem uma finalidade autônoma e se realiza tendo em vista uma satisfação que consiste nessa própria realização e se apresenta como um intervalo em nossa vida cotidiana. O jogo ornamenta a vida, ampliando-a, e torna-se uma necessidade tanto para o indivíduo, como função vital, quanto para a sociedade, devido ao sentido que encerra à sua significação, seu valor expressivo, suas associações espirituais e sociais, em resumo, como função cultural, ao domínio do ritual, do culto e do sagrado.
Roger Caillois, teórico do jogo, estabeleceu categorias claras que dão conta das modalidades do ato de jogar, essas categorias estão representadas em HASARD na forma de quatro situações simultâneas em quatro ruas diferentes de um quarteirão. A competição (agon), a encenação ou simulacro (mimicry), o azar (alea) e a vertigem (ilinx), tais categorias podem combinar-se em face da complexidade do jogo.
Sobre a dramaturgia da peça, a atriz e dramaturga Luana Raiter afirma que “um dos objetivos do HASARD é expandir a arte para além de sua posição convencional, elitizada, intocável, comercial para apresentá-la como algo em movimento, como um jogo, e fazer de nossos rituais cotidianos espaços criativos e transformadores no espaço urbano”. O diretor e também dramaturgo Pedro Bennaton complementa: “A dramaturgia de HASARD não só é fragmentada como se propõe fragmentar, dividir o público. Ainda estamos explorando esse aspecto, e continuaremos durante a temporada, pois é o primeiro trabalho no qual dividimos as pessoas em múltiplos espaços de forma tão radical”, ressalta.
TURNÊ
HASARD estreia dia 9 de agosto em Florianópolis e segue em cartaz até o dia 21/08, sempre às segundas, terças, quintas e sextas-feiras, totalizando 08 apresentações na Capital. Depois, embarca para Porto Alegre no dia 27/08 para quatro apresentações. Em setembro, a peça faz temporadas em Biguaçu, São José, volta a Florianópolis e finaliza temporada em São Paulo, capital, entre os dias 17 e 20/09.
ORIGEM DO JOGO
A palavra azzahr denominava o jogo e os ossos em cubos numerados de um dos primeiros jogos conhecidos na história da humanidade. Os árabes jogavam azzahr durante o comércio com os europeus na Idade Média e na época disseminaram esse jogo de dados. Os franceses o chamaram de hasar ou hasard, significando aleatoriedade, chance, acaso, possibilidade de perda ou dano e risco, sendo registrado pela primeira vez como o sentido do verbo ‘colocar algo em jogo’, no caso, no jogo de azar. Durante as guerras entre a França e a Inglaterra nos séc. XIII e XIV, os ingleses aprenderam o jogo e o chamaram de hazard, significando ‘tirar a sorte ou o azar’, além dos significados atuais: ‘ameaça’, ‘perigo’. Em árabe, azzahr, az-Zahr ou al-Zahr são os nomes da própria peça do jogo, o dado.
ERRO GRUPO
O ERRO Grupo experimenta a arte como intervenção no cotidiano, usando os espaços públicos como território de ação. Com 11 anos dedicados ao teatro de rua, o ERRO pesquisa a união das linguagens artísticas, o performer e a diluição da arte no cotidiano. Por meio da interferência nos fluxos do dia a dia na cidade, na paisagem urbana e nos meios de comunicação, o grupo busca explorar o espaço urbano a partir de seus significados, ambientes, arquiteturas, discursos e a criação de possíveis situações entre o ator e as pessoas que circulam pelas ruas.
Em seu currículo, o ERRO Grupo conta com prêmios e a circulação de seu trabalho por mais de 60 cidades do Brasil, além de viagens internacionais apresentando-se em Austin (EUA), na programação da galeria La Peña em Austin, Texas; em Buenos Aires (ARG), no 6º Encuentro Corpolíticas en las Américas (2007); e Bogotá (COL), no 7º Encuentro Ciudadanias en Escena (2009). Atualmente, o grupo através do PROGRAMA PETROBRAS CULTURAL tem seu trabalho continuado desde outubro de 2010 até esse ano. Nos últimos anos, o ERRO conquistou os seguintes prêmios: Prêmio Funarte Artes Cênicas na Rua 2009, Prêmio Elizabete Anderle de Estímulo a Cultura 2009, Prêmio Franklin Cascaes de Cultura 2008, Prêmio Interferências Urbanas 2008 (Rio de Janeiro), Prêmio Myriam Muniz de Teatro Funarte/Petrobras com Escaparate (2008), Prêmio Myriam Muniz de Teatro Funarte/Petrobras com Enfim um Líder (2007), Prêmio Myriam Muniz de Teatro Funarte/Petrobras com Desvio (2006).
HASARD é uma criação do ERRO Grupo, tem a direção de Pedro Bennaton que assina a dramaturgia com Luana Raiter, também atriz da peça. Além de Raiter, Sarah Ferreira, Michel Marques e Luiz Henrique Cudo integram o elenco do trabalho, que ainda conta com a participação dos performers Robison Soletti, Rodrigo Ramos, Dilmo Nunes e Crica Gadotti.
PROJETO MANUTENÇÃO DO ERRO
O ERRO Grupo, através do Programa Petrobras Cultural com o patrocínio da Petrobras, iniciou o projeto Manutenção do ERRO, em outubro de 2010 e o desenvolverá até novembro de 2012, nas cidades de Florianópolis e região, Porto Alegre e São Paulo. O objetivo do Petrobras Cultural é contemplar grupos de teatro dedicados à produção cênica contemporânea, com o patrocínio às ações continuadas de pesquisa, produção e difusão de seus trabalhos.
O projeto Manutenção do ERRO é dividido em duas etapas ao longo destes dois anos. Só em 2011, foram 33 apresentações na Grande Florianópolis com mostras do repertório do grupo, totalizando 25 mil espectadores, através das temporadas que o ERRO realizou dos espetáculos do repertório do grupo: Adelaide Fontana, Buzkashi, Escaparate, Desvio, Carga Viva, e Enfim um Líder, as oficinas Aberta ao ERRO, realizadas em 2010 e 2011, a oficina com o diretor argentino Emílio Garcia Wehbi, o intercâmbio artístico do ERRO com o Grupo Empreza/GO, assim como conversas com os profissionais convidados realizadas na sede do grupo e na Fundação Franklin Cascaes gratuitas e abertas ao público, e que se complementam nesse ano com as pesquisas e temporadas de HASARD, somando 55 apresentações em dois anos e cinco oficinas formativas.
PETROBRAS CULTURAL
O Projeto Manutenção do ERRO é um dos projetos selecionados pelo Programa Petrobras Cultural que é destinado à seleção pública de projetos em 19 áreas culturais, dentro das três linhas de atuação: Formação; Preservação e Memória; e Produção e Difusão. Criado em 2003, o PPC baliza as ações de patrocínio da Petrobras em torno de uma política cultural de alcance social e de afirmação da identidade brasileira. Desde sua primeira edição, as seleções públicas já destinaram R$ 250 milhões a mais de mil projetos em todos os estados do país através da Lei Rouanet. Obtenha mais informações em http://www.hotsitespetrobras.com.br/ppc/.
SERVIÇO
O QUÊ: Temporada de estreia da peça HASARD em Florianópolis
ONDE: Calçadão das Ruas Trajano, Deodoro, Felipe Schmidt e Conselheiro Mafra, Centro de Florianópolis
QUANDO: de 09 a 21 de agosto (segundas, terças, quintas e sextas-feiras)
HORA: A partir das 17 horas
QUANTO: Gratuito
HASARD
Ficha Técnica
Concepção e dramaturgia: Luana Raiter e Pedro Bennaton
Direção: Pedro Bennaton
Atores: Luana Raiter, Luiz Henrique Cudo, Michel Marques e Sarah Ferreira
Performers: Rodrigo Ramos, Dilmo Nunes, Robison Soletti e Crica Gadotti
Direção de Arte: ERRO Grupo
Sonoplastia: Isaac Varzim
Técnicos de som e vídeo: Michel Marques, Rodrigo Ramos e Robison Soletti
Cenotécnica: Crica Gadotti
Contra-regra: Ângelo Giotto
Design-gráfico: Fabrício Faustin Rezende e Rafael Amaral
Baralho: Leandro Pitz
Textos baralho: Luana Raiter e Pedro Bennaton
Fotografia: Larissa Nowak, Ana Carolina Von Hertwig, Pedro Bennaton e Rafael Schlichting
Filmagem: Rafael Schlichting, Ana Carolina Von Hertwig, Pedro Bennaton e Sarah Ferreira
Edição de vídeo: Rafael Schlichting e Sarah Ferreira
Assessoria de imprensa: Juliana Bassetti
Web-designer: Henrique Palazzo – Estúdio Obra
Contabilidade: Cultura Contábil
Criação, realização e produção: ERRO Grupo