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HASARD – Curitiba
Confira alguns registros de HASARD nas apresentações pelo Festival de Teatro de Curitiba nos dias 01, 02 e 03 de abril de 2013. Fotos e outras reverberações do conflito entre o ERRO e a PM-PR.
Registros das apresentações de HASARD em Curitiba pelo Festival de Teatro de Curitiba nos dias 01, 02 e 03 de abril de 2013 simultaneamente na Praça Zacarias, Rua Quinze de Novembro, Travessa Oliveira Bello e Al. Dr. Muricy. Abaixo seguem fotos e outras reverberações da censura que o ERRO enfrentou na capital paranaenses em conflito com a Polícia Militar.
Reportagem no Jornal Hoje em 04-04-13
Reportagem no Jornal Paraná TV em 04-04-13
Polícia desiste de proibir atores de fazer peça e eles não tiram a roupa no Festival de Curitiba
Por Miguel Arcanjo Prado enviado especial do R7 ao Festival de Curitiba
Após interromper a sessão da peça de rua Hasard, do Erro Grupo, de Florianópolis (SC), no Festival de Curitiba, nesta terça-feira (2), a Polícia Militar do Paraná desistiu da repressão aos atores nesta quarta-feira (3).
O grupo realizou a última apresentação do espetáculo na rua XV de Novembro, no centro curitibano, mesmo local onde havia acontecido o enfrentamento desta terça.
Apesar de permanecer de plantão no começo da peça com duas viaturas, os policiais resolveram deixar os atores seguirem a apresentação. Sem nenhuma explicação, momentos antes da polêmica cena final, onde os atores podem ficar ou não nus, os policiais resolveram ir embora.
A reportagem exclusiva do R7 sobre a ação desta terça repercutiu e a apresentação desta quarta teve ampla cobertura da imprensa.
Justo no dia em que os policiais foram embora, os atores não ficaram nus. É que a peça obedece a um jogo de cartas, onde há quatro finais possíveis. A chance de o fim com a nudez acontecer é uma entre quatro. E as cartas desta quarta determinaram um final no qual os atores apenas correm pelas ruas.
O diretor do grupo, Pedro Bennaton, falou que o grupo jamais manipularia o final só porque a mídia se interessou pelo trabalho deles, a partir da repercussão da matéria exclusiva do R7.
– Seria manipular o nosso próprio jogo, como o “sistema” faz. O espetáculo questiona justamente isso. Queremos ser peças de um jogo ou jogadores? Aqui em Curitiba, conseguimos de uma certa forma mudar as regras com nosso trabalho artístico.
Sobre o fato de a polícia ter ido embora, o diretor foi enfático.
– Talvez a polícia tenha algum departamento de inteligência e tenha visto que há problemas maiores na cidade. A atuação deles ontem foi patética. Tomara que a decisão tenha sido a de um ator que sabe que atua mal e resolve sair de cena.
Bennaton ainda falou que o apoio do público foi fundamental para que o grupo realizasse seu trabalho. Nesta terça, quando a polícia parou a peça, o público protestou com veemência. E o protesto seguiu durante todo o dia de hoje na internet.
O grupo apresenta outro espetáculo às 11h desta quinta (4) no largo da Ordem, centro curitibano.
Polícia interrompe peça por cena de nudez no Festival de Curitiba
Por Miguel Arcanjo Prado enviado especial do R7 ao Festival de Curitiba
A Polícia Militar do Paraná interrompeu a sessão do espetáculo Hasard, do Grupo Erro, de Florianópolis (SC). A trupe catarinense fazia uma apresentação na rua XV de Novembro, ponto turístico da capital paranaense. A montagem integra a programação do Fringe, a mostra paralela do Festival de Curitiba.
Por volta das 20h desta terça-feira (2), a equipe policial comandada pelo Primeiro Tenente Oliveira interrompeu uma das cenas, ameaçando os atores de prisão. A reportagem do R7, que presenciou o fato, questionou ao policial o porquê da ação.
– Na apresentação de ontem ficamos sabendo que eles tiraram a roupa completamente e ficaram nus. Sabemos que a Constituição garante a liberdade de expressão artística, mas ficar nu em uma praça pública é um atentado ao pudor. Ninguém foi preso hoje porque interrompemos antes da cena de nudez.
O R7 também conversou com o diretor do Erro, Pedro Bennaton, ele disse que a proposta do Grupo é discutir “a liberdade” e que eles não querem “ser acima da lei”.
– Nossa nudez é de apenas trinta segundos. Não é algo vulgar ou sexual. Queremos discutir as leis urbanas. Hoje, os policias vieram antes da cena de nudez e nos censuraram. Resolvemos parar porque não temos nenhum aparato jurídico. Ontem chegamos a ser ameaçados de prisão.
A reportagem apurou que a Companhia pretende repetir a performance nesta quarta (3), na rua XV de Novembro, nas imediações do Teatro HSBC. Os policiais também confirmaram ao R7 que estarão presentes.
Polícia interrompe peça de rua com cena de nudez no Festival de Curitiba
Por Rafael Moro Martins do UOL, em Curitiba 03/04/2013 – 16h11
Com armas em punho, policiais interromperam nesta terça-feira (2) a segunda apresentação da peça “Hasard”, que faz parte da mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, segundo integrantes do Erro Grupo, de Florianópolis.
O motivo é uma cena de nudez com cerca de 30 segundos de duração, já no fim do espetáculo, encenado no calçadão da Rua 15 de Novembro, principal via do centro da capital paranaense.
“Nos sentimos totalmente coagidos”, resumiu o diretor Pedro Bennaton. Segundo ele, problemas como o enfrentado em Curitiba são relativamente comuns na história de 12 anos da trupe, que só faz teatro de rua.
“Problemas com a polícia já ocorreram em outros lugares, como Florianópolis e Palhoça (SC). Mas nunca tivemos uma repressão como a de ontem (terça), com cinco viaturas e quase dez policiais com armas em punho”, desabafou. É a quinta vez que o grupo participa do festival curitibano, considerado o maior do País.
Os problemas do Erro Grupo com a Polícia Militar paranaense começaram já na segunda (1.º), dia da primeira apresentação de “Hasard”. “O texto trata de jogo de azar. Por isso, há quatro finais, sorteados durante o espetáculo. Na segunda, saiu o final de Ouros, em que os atores apostam suas roupas e as perdem, ficando nus por cerca de 30 segundos”, explicou Bennaton.
Enquanto o trecho era encenado, policiais que faziam uma ronda pelo calçadão notaram a nudez dos atores e tentaram interromper a cena. Quando chegaram, o trecho já havia acabado. Sem encontrar os artistas em cena, os policiais ameaçaram a produção do espetáculo de prisão, relatou o diretor.
Na terça, novamente foi sorteado o final com a cena de nudez. “Quando atores começaram a encenar o final, notamos quatro viaturas e cerca de dez policiais, alguns com armas em punho, vindo em nossa direção. Encerramos o espetáculo antes da hora, para evitar problemas”, disse Bennaton.
Procurada pela reportagem, a PM do Paraná informou que recebeu “várias” chamadas de moradores, incomodados com a cena de nudez, e por isso foi ao local. Questionada sobre policiais com “armas em punho”, como denunciaram os artistas, a corporação disse não ter detalhes de como foi feita a abordagem.
A PM também informou que orientou os atores a usarem roupas íntimas durante a cena, sob o argumento de que nudez em público é crime de atentado ao pudor, segundo o Código Penal. O Erro Grupo argumenta que as cenas de nudez não têm conotação sexual.
Nesta quarta, o Erro Grupo realiza a terceira apresentação de “Hasard”, às 18h. Devido à repercussão da repressão policial, alguns espectadores e participantes do festival prometem tirar as roupas, em apoio à trupe catarinense, caso novamente seja sorteado o final em que há cenas de nudez.
Polícia impede que elenco fique pelado em peça do Festival de Teatro
Por Bibiana Dionísio do G1 PR – 03/04/2013 16h08 – Atualizado em 03/04/2013 17h53
‘Hasard’ é encenado pelo Erro Grupo, de Florianópolis, em Curitiba.
Polícia admitiu intervenção e disse que alertou sobre atentado ao pudor.
A peça de teatro “Hasard”, que integra o Festival de Curitiba e é representada pelo Erro Grupo, de Florianópolis, sofreu intervenção da Polícia Militar (PM) na apresentação de terça-feira (2). Encenada ao ar livre, em quatro ruas do Centro da cidade, o espetáculo utiliza um baralho para interagir com o público e esta interatividade define o final. Há quatro possibilidades e uma delas exige a nudez completa, que motivou a presença policial. A organização do Festival de Teatro de Curitiba informou que não irá se pronunciar.
A atriz Luana Raiter, de 31 anos, afirmou que na segunda-feira (1º) havia um carro policial próximo a apresentação, porém, os policiais não conseguiram conversar com os atores porque a cena é rápida e assim que eles tiram a roupa já saem de cena. De acordo com a atriz, os policiais falaram com produtores da peça e disseram que caso eles ficassem novamente nus, os atores seriam presos.
No dia seguinte, coincidentemente, conforme relatou a atriz, o final também exigiu que os atores tirassem a roupa. “Novamente caiu o final de ouros, a chance é de 25%”, disse a atriz. Segundo ela, na terça-feira a polícia deslocou quatro viaturas para o local. “Vieram em grande número, disponibilizaram uma estrutura relativamente grande. As viaturas começaram a se aproximar, a ligar as luzes e os policiais cruzaram a roda, dois com arma em punho, e se posicionaram no nosso lado na cena. Eles não falaram para parar, mas nós não conseguimos continuar. O público ficou revoltado”, afirmou Raiter.
Procurada pelo G1, a Polícia Militar confirmou que interveio no espetáculo. Disse que recebeu uma reclamação de populares de que havia nudez em espaço público e que advertiu os integrantes que a situação configura ato obsceno. Segundo a Polícia Militar, foi alertado que o grupo poderia ficar de peças íntimas. Ainda de acordo com a polícia, o elenco concordou. A polícia destacou que a nudez em público desrespeita o Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
“Achei bem forte como a policia daqui se posicionou”, considerou Raiter. O espetáculo é encenado desde agosto de 2011 e, de acordo com a atriz, apenas em uma apresentação, em Florianópolis, também houve intervenção policial. Ela contou que na ocasião comerciantes reclamaram mais do barulho e do tumulto do que da própria nudez da peça. “Era uma série de 14 apresentações. A polícia teve muito mais oportunidades”, disse a atriz.
Nesta quarta-feira (3), haverá uma nova apresentação de Hasard, às 18h, na quadra que compreende a Praça Zacarias, Rua XV de Novembro, Travessa Oliveira Brito e Al. Dr. Muricy. Caso a interação provoque o final de ouros, diferente do que ocorreu na terça-feira, o grupo vai representá-lo, garantiu a atriz. Segundo ela, o apoio que elenco recebeu do público diante na presença policial foi primordial para que ele mantivesse a proposta do espetáculo. “Fiquei muito surpresa como o público se colocou. Eu não sabia que teríamos o respaldo do público. Eu vi que não estávamos sozinhos, nós tínhamos o respaldo das pessoas”, disse a atriz.
“A gente vive numa sociedade onde a sensualidade, o sexo é explorado vividamente. Eu tenho uma filha de sete anos que já viu coisa na televisão que nem se aproxima ao corpo nu. A gente apenas se desfaz dos bens materiais, é uma ação muito ritualística. Eu não consigo ver como isso pode perturbar, ser um atentado”, finalizou.
A rua será seu túmulo
Por Rubens Herbst – Jornal A Notícia – 14 de abril de 2013
O ERRO Grupo estava escamado. As temporadas de Hasard em Florianópolis, cidade-sede da trupe, volta e meia terminavam de maneira abrupta, com a intervenção policial. Pois vale lembra que o ápice do espetáculo de rua é um jogo de cartas proposto ao público que, dependendo da combinação delas, leva à nudez dos atores. Mesmo conhecendo os riscos, o elenco não esperava o clima de guerra que encontrou em suas apresentações no Festival de Teatro de Curitiba, há duas semanas. O aparato bélico e repressor usado pela PM para impedir o “abuso artístico” repercutiu na mídia nacional, mas traumatizou o grupo, a ponto de uma nota no site oficial dele sugerir o abandono das atividades. É muito provável que haja outro jogo aí, que passa por uma performance chamada Enfim um Líder, que o ERRO apresentaria na sexta-feira (12), em Porto Alegre. O diretor da companhia, Pedro Bennaton, falou à coluna sobre esses trancos e barrancos, uma conversa que o blog apresenta na íntegra junto com alguns vídeos.
Vocês vão mesmo desistir de Hasard?
Pedro Bennaton – Não vamos desistir do Hasard especificamente. O nosso comunicado oficial afirma que não faremos mais teatro e que esperaremos o Líder. É isso que estamos fazendo. Talvez nunca fizemos teatro. As infinitas possibilidades que a rua proporciona nos levam a crer que o teatro é uma parte mínima do que realmente fazemos. Muitas pessoas participam de nosso trabalho e dizem que o que fazemos não é teatro, portanto, só nos resta perguntar ao Líder o que é teatro. Ele nos responderá na sexta-feira, em Porto Alegre em plena esquina democrática. Quando ele responder às nossas perguntas, no momento de sua chegada, então nós saberemos o que fazer.
O que mais lhe chateou nessa confusão toda, seja em Curitiba, seja em Floripa?
Bennaton – Ficamos frustrados e angustiados, mas também sentimos que o nosso trabalho tomou proporções de modo a intervir na cidade de maneira contundente. A frustração e angústia se devem ao fato de que não tivemos como virar o jogo naquele momento. As armas simplesmente aniquilaram as nossas estratégias. Em cada trabalho miramos em uma ou mais partes dessa estrutura de poder para tentarmos atingí-la de alguma forma. Portanto, não foi surpresa alguma quando tivemos as reações truculentas da polícia em Florianópolis e Curitiba. O que mudou em Curitiba em relação aos ocorridos anteriores foi o fato de que os policiais chegaram armados e prontos para o confronto. Os integrantes do ERRO podem ser chamados de loucos e arruaceiros, mas não de idiotas. Os policiais de Curitiba fizeram uma operação tática, muito mal feita, mas a configuração espacial dos oficiais em relação aos atores denunciava uma aproximação violenta. O cenário era de guerra, e nós sabemos que na força eles sempre ganham, assim como poderíamos ter alguma fatalidade muito séria pelo nível de tensão que os policiais provocaram.
De alguma forma vocês já esperavam essa reação das autoridades?
Bennaton – No ERRO temos uma máxima, um ideal que nos acompanha desde antes do início do grupo (lá nos idos da greve de 2000, na Udesc), que é abalar as estruturas de poder, mas tentando ao máximo não ser preso. Ser preso nos parece uma derrota, algo extremamente fácil de acontecer se algum artista quiser se promover com a prisão. Nós sempre nos pautamos pelo que aprendemos na rua. Aquele que conhece a rua sabe como safar-se dos perigos que ela apresenta. Nós do ERRO observamos a polícia em diversos momentos do grupo. No Hasard, inclusive, fizemos uma oficina com o batalhão de choque da PM-SC, o que nos possibilita ter conhecimento de como esse organismo opera. Procuramos, ao máximo conhecer as leis que tentamos romper, ou que estamos questionando. Aqui ninguém é inocente. A inocência não sobrevive na rua. Tanto que não lançamos manifesto algum após o ocorrido ou ficamos choramingando para a imprensa. O Miguel Arcanjo passava no local por acaso e resolveu cobrir. Aí tudo se transformou em espetáculo. O ERRO lançou apenas uma ou duas piadas no dia do ocorrido, pois já estamos acostumados com as interferências de policiais em nossos trabalhos. O comunicado oficial é muito mais uma direção ao futuro do grupo do que uma reclamação com o fato da semana retrasada. Ao longo dos 12 anos de ERRO, nos restam três lições: uma é a de que precisamos de um advogado no grupo; a outra é a de que se o teatro é uma arte passiva (como muitos preferem); e a a última, e mais, importante, é que o ERRO agora só possui o foco no Líder, a nossa única salvação.
Você acha que, mesmo com os acontecimentos lamentáveis, o espetáculo cumpriu com sua proposta?
Bennaton – Acredito que sim. Como o trabalho expõe os mecanismos de poder e de manipulação, o ocorrido acabou por explicitar a forma como esse esses mecanismos e essas relações ocorrem no dia a dia.
O público não tem sua parcela de culpa? Você considera que as pessoas estão prontas para propostas como essa, questionadoras, ousadas?
Bennaton – Acredito que não há culpa. Como em todo jogo de azar, a fortuna é uma roda incontrolável. Vivemos em um tempo onde a força do sistema capitalista, com as suas formas de controle, a idéia de democracia, a sedução do consumo, são tão fortes e estruturados que não há como julgar ninguém. No caso do ocorrido em Curitiba, o público agiu de uma forma exemplar, manifestando sua indignação contra a ação policial na hora do ocorrido. Cercaram os policiais. questionaram com fúria a ação deles.
A experiência do Hasard pode originar outro trabalho nos mesmos moldes?
Bennaton – Como somos um grupo que trabalha com pesquisa, é possível dizer que todos os nossos trabalhos são influenciados um pelo outro, seja para perceber o que não devemos repetir, ou o contrário. No projeto Manutenção do ERRO, o incentivo da Petrobras nos deu meios de apresentar, em um ano, seis trabalhos, e foi muito bom, pois percebemos exatamente as estratégias e ferramentas que funcionavam e as que deveríamos abandonar.