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Residência com Wehbi

Diário de pesquisa, e entrevista, durante a residência do ERRO em Buenos Aires com o diretor argentino Emilio García Wehbi pelo projeto Persistência: atividades de fomento local e manutenção do ERRO Grupo.

Persistência: atividades de fomento local e manutenção do ERRO Grupo
Edital Elisabete Anderle 2014

RESIDÊNCIA DO ERRO GRUPO EM BUENOS AIRES COM EMILIO GARCÍA WEHBI

Entrevista com Emilio Garcia Wehbi

Diário de bordo de pesquisa

Primeiramente, gostaríamos de frisar os nossos agradecimentos ao diretor Emilio García Wehbi e toda a equipe do espetáculo El Grado Cero Del Insomnio (Rosario Alfaro, Camila Carreira, Erica D’Alessandro, Mateo De Urquiza, Alejandra Ferreyra Ortíz, Soledad García, Cintia Hernández, Victoria Hernández, Mariana Moreno, María José Salinas, Maricel Alvarez, Marcelo Martinez, Belén Parra, Julieta Potenze, Valentina Remenik, Agnese Lozupone e Felipe Díaz), por nos receberem com tamanha seriedade e simpatia, além de abrirem a nós todo o processo de ensaios e apresentação durante o período que estivemos em Buenos Aires.

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  • 09/03

Ensaio da peça El Grado Cero del Insomnio, de Emilio García Wehbi, no Teatro Beckett, Guardia Vieja, Buenos Aires – 9h30 às 13h30

As atrizes fazem um aquecimento individual e então é realizada uma passada geral da peça, sem interrupções. Pontos de interesse observados: questões sobre o teatro, correção política, performance, “teatro de living”, classe média burguesa, politicamente correto, teatro político apolítico, debate, participação passiva e vazia do espectador , mercado e questões de gênero.

Terminada a passada, todos sentam ao redor da mesa que também compõe o cenário da peça para ajustar pontos destacados pelo diretor.

Ajustes individuais no texto e na cena inicial, uma coreografia.

Tudo flui normal e tranquilamente. Todos estão cientes de suas funções e responsabilidades, de modo que não há preocupações desmedidas ou desnecessárias.

  • 10/03

Ensaio da peça El Grado Cero del Insomnio, de Emilio García Wehbi, no Teatro Beckett, Guardia Vieja, Buenos Aires – 10h30 às 14h30

Por conta de uma aula na sala principal do Teatro Beckett, o ensaio é realizado no subsolo do Teatro. Um ambiente com dimensões bem menores que as do palco e com algumas colunas obstruindo. Assim é realizada uma versão reduzida da peça, sem a coreografia inicial e com ações mais contidas.

O diretor foca a sua atenção às intenções das falas.

Mesmo com a adversidade do espaço, o ensaio flui tranquilamente.

  • 11/03

Ensaio da peça El Grado Cero del Insomnio, de Emilio García Wehbi, no Teatro Beckett, Guardia Vieja, Buenos Aires – 9h30 às 13h30

Revisão dos passos problemáticos da coreografia do início da peça.

Ensaio geral, exceto luz e áudio de Zizek “pequeno”, mas com elenco completo: as 09 atrizes e um ator que representa o teórico sérvio Slavoj Žižek.

Preocupação com clareza do texto das atrizes, pausas e organização da cena.

Todo o processo e a equipe são muito tranquilos e objetivos.

Ao final do ensaio, auxiliamos Emilio, Rosario Alfaro (atriz) e Julieta Potenze (produtora) a pintar de preto o piso do Teatro Beckett.

  • 12/03

Reestreia da peça El Grado Cero del Insomnio, de Emilio García Wehbi, no Teatro Beckett, Guardia Vieja, Buenos Aires – 20h às 1h

Limpeza do piso;

Posicionamento e afinação dos instrumentos;

Colocação da mesa, cadeiras e néon;

Passagem de som;

Passagem da coreografia de abertura;

Passagem da coreografia com Zizek sentado para acertar um movimento;

Montagem e afinação de luz;

Mais uma passagem de som;

Auxiliamos carregando a mesa, caixas, néon e servindo de stand in;

Faltando 14 minutos e chegam do camarim todas as atrizes no espaço de apresentação para ouvir a última direção de Emilio: “… dominar, dominar o público, não confundir intensidade com velocidade, cuidar com pronúncia…”.

23h08 – casa cheia, todos os 79 lugares ocupados. Vamos para um balcão ao lado do canhão seguidor e de lá assistimos a peça.

Fim do espetáculo.

Longos aplausos de pé.  Elenco volta mais uma vez para receber os aplausos.

Desmontagem. Emílio “mete a mão na massa”, como o fez durante todos os dias, desmonta tudo, sobe escada, carrega coisas, mesas e cadeiras. Nós o auxiliamos na desmontagem e limpando o chão.

Às 1h da manhã, vamos jantar com toda equipe e ainda observamos alguns pontos sobre o processo de criação e reestréia da peça.

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  • 14/03

Aula do Taller de Dirección y Puesta en Escena, com Emilio García Wehbi, em sua casa-atelier, Colegiales, Buenos Aires – 19h30 às 22h30

3 grandes mesas, 26 cadeiras, dois bancos à parte para nós. Sobre a mesa muitos livros, inclusive os livros do ERRO, um caderno de anotações, um relógio, um lápis, um projetor e um computador. Debaixo da mesa, uma cachorra.

16 alunos.

Emilio abre a aula nos apresentando e nos dando a palavra, falamos um pouco sobre a poética do ERRO. Teatro Invisível chama a atenção dos alunos, que questionam e tanto nós, quanto Emilio, respondemos sobre a prática de Boal e as diferenças e apropriações que fazemos deste conceito hoje.

Ranciére é referência. Emilio menciona a criação de um “diccionario del taller”.

A aula se dá a partir da leitura do manifesto La poética del disenso. Manifiesto para mí mismo., escrito por Emilio García Wehbi.

“A reflexão é a posteriori.”

“Não sei o que estou fazendo enquanto estou fazendo.”

“O trabalho da direção é mais complicado do que é.”

“Ter em mente a borda, o limite, o marco, para que o espectador não entenda o que não se deseja que ele não entenda.”

Eixos de tempo, ação e espaço.

Grande discussão sobre “representación x presentación”.

“Fazer que o espectador sinta que tais decisões do diretor não poderiam ser de outra forma”.

“É importante a presença do diretor durante todas as funções/apresentações.”

Projeção de imagens e fala de Emilio sobre: “trabalhos de EGW desde 1990”.

“Interrogar o acontecimento acidental na criação.”

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  • 15/03

Aula do Taller de Dirección y Puesta en Escena, com Emilio García Wehbi, em sua casa-atelier, Colegiales, Buenos Aires – 19h30 às 22h30

Emilio abriu a aula da mesma maneira que no dia anterior, nos apresentando e nos dando a palavra.

22 alunos presentes. A assistente também está presente. Mesma disposição da sala no dia anterior, livros sobre as mesas, projetor, computador, caderno, lápis, relógio e a cachorra debaixo da mesa.

Era pra ser a mesma aula, mas a turma leva a discussão para outro lado, questionando outros aspectos do Manifesto escrito por Emilio.

Emilio cita o manifesto antropofágico, de Oswald de Andrade.

Unir a cabeça de Brecht com o corpo de Artaud.

“Forma é conteúdo.”

Longa discussão sobre forma x conteúdo.

“O autor deve ser invisível na obra.”

“Se o espectador se vai antes do final, não há enfrentamento. Perde a obra.”

“Quem melhor está resolvendo a crise do teatro é a dança.”

“A dança traz o corpo vivo.”

“Estamos acostumados a gerar mais discursos de dominância do que debater.”

Entra na discussão o livro A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord.

  • 16/03

Entrevista do ERRO Grupo com Emilio García Wehbi, em sua casa-atelier, Colegiales, Buenos Aires

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