Obra
23º Debate Público / Jogo Ágora
23º Debate Público (nome artístico) / Jogo Ágora (nome completo), do ERRO Grupo, que estreou no dia 25 de outubro no Senadinho em Florianópolis, é uma peça ou debate, peça-debate ou debate-peça, dependendo do posicionamento das pessoas em jogo ou de sua preferência de posição, até, nesse jogo de palavras (e representação). A obra é fruto da pesquisa do ERRO, que em 2017 completa 16 anos de atuação com seus trabalhos que envolvem performance, teatro de rua e intervenção urbana, que iniciou o processo específico para a peça em 2015.
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Ao final de sua circulação com Geografia Inutil…, em 2014, o ERRO esboçou um planejamento de sua manutenção durante os dois anos seguintes. Este período, dividido em três etapas, foi denominado pelo coletivo como uma trilogia, Insistência, Persistência e Resistência. As duas primeiras se constituíram como processos de pesquisa para uma nova obra e a última etapa a sua estreia e circulação que iniciou com a temporada de apresentações nos dias 25 e 28/10 e 04 e 11/11/16 em Florianópolis.
As etapas Insistência e Persistência, ambas como projetos de atividades de fomento local e manutenção do ERRO Grupo, foram contempladas com os prêmios Prêmio FUNARTE de Teatro Myriam Muniz 2014 e Prêmio Catarinense de Teatro – Edital Elisabete Anderle de Incentivo à Cultura 2014 respectivamente, de modo que possibilitaram o desenvolvimento da pesquisa do grupo de maneira ideal. Agora, e em ágora, o grupo em Resistência não conta com nenhuma possibilidade financeira para a manutenção de seus trabalhos e pesquisas, realizando 23º Debate Público (nome artístico) / Jogo Ágora (nome completo) com recursos dos próprios integrantes do ERRO e de seus colaboradores e parceiros.
Em Persistência, por exemplo, o ERRO pôde aprofundar suas indagações com a recente obra através de residências com Roger Bernat em Florianópolis, Emilio Garcia Wehbi em Buenos Aires, e no Hemispheric Institute of Politics and Performance em Nova Iorque, e lançando o livro Persistência, em outubro de 2016, que compreende um relato do grupo, anterior a estreia da peça, sobre a pesquisa desenvolvida atualmente e nos próprios projetos e residências, entre outras atividades.
Além das residências, e também consternado pela fragilidade do sistema democrático do Brasil, o ERRO realizou em Insistência e Persistência 22 debates públicos em plena rua, que também serviram como base para a construção da peça. A situação política do país piorou drasticamente desde o primeiro debate, portanto, o grupo tenta responder poeticamente a essa própria situação, construída por um debate constante na rua, propondo este 23º Debate Público (nome artístico) / Jogo Ágora (nome completo) para também tentar experimentar e colocar em cheque as dinâmicas de discurso, e suas representatividades políticas, cênicas e afetivas que regem os debates atualmente. Além disso, se o debate da peça permitir será possível explorar alguns estratagemas da retórica discursiva, dialética e erística.
PESQUISA
O cidadão não é mais aquele que mantêm uma atividade política constante. Para ser um cidadão é necessário não apenas participar, mas também ativar. Contudo, a compreensão do que constitui um cidadão sempre se direciona pelo cumprimento dos deveres. Esses deveres não mais permitem ao cidadão exercer a sua capacidade de participar da construção de sua realidade cotidiana. Nesta perspectiva é plausível afirmar que a sociedade vem há muito tempo sendo despolitizada, e que talvez já não possa ser chamada de uma sociedade política. Se a política, o Congresso nacional, os parlamentos e os debates estão teatralizados pela mídia de uma sociedade espetacular, o teatro pode ser o lugar do debate político?
O que pode ser interessante em uma situação (des)politizada como a atual é a possibilidade de se criarem novas abordagens da política, novos modos de agir politicamente. Sendo assim, se no final se verificar uma mudança política, talvez ela será mais radical do que antes. O teatro, e o debate, podem ser espaços para a discussão em tempo real de ideais e de tomada de decisões em um coletivo, através de dispositivos poéticos e partindo do pressuposto de que não é só importante, mas necessário, ouvir a voz e as opiniões dos presentes.
Em uma sociedade onde o dissenso não é tolerado, qual é a função de um debate e do teatro? Qual é o nível de representação do ser humano em um debate? É possível debater em tempos de crises de representatividade, representação e verdade, em tempos de espetáculos, individualismo, ódio e fascismo? O sujeito entra em colapso e a coletividade em dissidência torna-se impossível. A realidade não pode conter, ou pode não conter, a Ágora contemporânea.
Se a política tem como origem o discurso e a imposição de um discurso vigente, seria essa a origem da manipulação e dominação (própria da própria política)? A imposição de uma opinião seria a base de nossa política supostamente democrática? Existem códigos para penetrarmos e participarmos deste sistema, e de sua manipulação. Teríamos que manipular os códigos que o representam sendo a linguagem a origem desses códigos de dominação. Por exemplo, o valor do patriotismo: é importante fazer o brasileiro se orgulhar de ser brasileiro? O que é o orgulho brasileiro? Do que nos orgulhamos?
Esta obra, criada pelo ERRO Grupo, com concepção de Pedro Bennaton, que também assina a direção, e realiza a dramaturgia juntamente com Luana Raiter, teve sua temporada de estreia realizada no Senadinho, um local icônico e importante para a história política e social da cidade, e do país, tentando tornar-se uma manifestação estética de um evento político real-ficcional — um debate — com representantes, anti-representantes, contra-representantes e representantes, dos mais diversos ideais, opiniões e movimentos.
23º Debate Público (nome artístico) / Jogo Ágora (nome completo) sublinha um gesto constante nos trabalhos do grupo: o objetivo de trazer uma assembleia política diretamente em contato com o espaço público, operando através de uma poética entre a interação e a intervenção, uma poética do ERRO.
Ficha técnica
Concepção e direção: Pedro Bennaton.
Dramaturgia: Luana Raiter e Pedro Bennaton.
Atuação: Dilmo Nunes, Luana Raiter, Luiz Henrique Cudo, Sarah Ferreira.
Voz em off: Marina Moros.
Direção de Arte: Luana Raiter.
Cenário: Luana Raiter e Dilmo Nunes.
Sonoplastia: Michel Marques.
Interlocução durante a pesquisa: Diana Taylor, Emilio Garcia Wehbi, Roger Bernat e todos os presentes nos 22 debates públicos anteriores.
Criação e Produção: ERRO Grupo.